Planejar uma Guarda Compartilhada não é exatamente a coisa mais fácil do mundo. Muitos rancores, várias decepções, medos podem influenciar negativamente na conversa – o que é supernormal no momento de final de um relacionamento.
Contornar estes sentimentos pode exigir um esforço aparentemente sobre-humano, mas há algumas dicas que podem ajudar:
1) Planeje a conversa
Para planejar uma Guarda Compartilhada, é preciso pensar em muitos aspectos da vida da criança e dos seus responsáveis. No calor do momento, tende a ser difícil pensar em tudo, e discutir cada detalhe conforme um dos dois se lembre dele pode tornar a tarefa mais desgastante.
Por isso, pense antes do encontro em todos os detalhes que puder pensar e faça anotações. A ideia é apenas adiantar, sozinho e com calma, algumas questões da rotina da família, lembrar dos horários de cada um, das dificuldades práticas, pensar em familiares ou outras pessoas que possam ajudar e também olhar para si e reconhecer quais são os seus medos e preocupações. Anote tudo em um papel para facilitar a conversa: inclusive esses aspectos emocionais. Expor seus medos e preocupações é importante para que o outro o entenda.
Com a cabeça fria, você pode até preparar uma “proposta” tentando deixar tudo o mais justo para ambos quanto você for capaz, mas também tendo em mente que não é o projeto final e que o verdadeiro acordo será construído depois, conforme os desejos e necessidades de cada um. Pense na sua proposta como um “brain storm” (chuva de ideias), não como algo fechado, e lembre-se de não se apegar a ela. Você não é a sua proposta! Se o outro não concordar com ela, isso não é uma ofensa pessoal a você. O importante não é a solução que você vai criar sozinho, pois a solução final vai ser construída por vocês juntos, com ideias que vão surgir no momento e que, no final, vocês nem vão saber distinguir quem foi o autor de cada uma.
Além de adiantar as questões objetivas, planejando essa conversa, você poderá viver esse momento sozinho antes, senti-lo e digerir as dores relacionadas com ele, sentir raiva, medo, chorar, chegando para a conversa com mais racionalidade. Mas lembre-se, se durante a discussão surgirem questões pessoais do outro, acolhe-las e reconhece-las será importante.
Dessa forma, chegando mais preparado – inclusive emocionalmente – o planejamento será melhor direcionado, mais completo e vocês poderão focar apenas no que realmente importa: o cuidado com as crianças (e de forma saudável aos adultos!).
2) Saiba ouvir tanto quanto falar
Saber ouvir é de suma importância na hora de planejar uma Guarda Compartilhada. É claro que você pode e deve defender seus interesses e necessidades na discussão, mas ouvir os desejos e necessidades do outro lado é fundamental para que um acordo que ambos acolham possa ser atingido.
Seja razoável. Trabalhe a empatia. Ponha-se no lugar da outra pessoa e tente propor formas de resolver a equação de forma que ambos – e principalmente as crianças – saiam ganhando. Seja frio e calculista com o problema a ser resolvido, mas seja receptivo e compreensivo com as dificuldades do outro.
3) Mantenham o foco nas crianças
O amor por seus filhos é algo que vocês têm em comum. Focar nesse ponto irá ajudá-los a passar por cima de suas diferenças e encontrar mais objetividade. A equação será como resolver a nova rotina da família tendo como meta o bem-estar das crianças. Pensem, sempre, como as crianças vão se sentir se o plano de vocês for colocado em prática. Exercitem aqui também a empatia. Coloquem-se no lugar delas: “como eu me sentiria tendo essa rotina com essa idade?”. E, cuidado! Nem sempre perguntando a elas vocês terão a resposta mais verdadeira. Com medo de desagradá-los, os filhos podem dizer que concordam com algo que os estressa ou faz sofrer. Então, o mais importante é focar nos sinais que eles vão passar.
Olhos e corações abertos para os filhos. E se algo não estiver legal, nada impede que façam modificações depois. A esse olhar para os filhos deve-se somar um olhar para vocês mesmos, sua a saúde física e psicológica. Vocês existem e precisam se cuidar, até para poderem ser bons pais. Então, não só para eles, mas também para vocês, o plano tem que ser viável!
4) Traga seus filhos para a discussão
Acrescentar as crianças na conversa para planejar uma Guarda Compartilhada pode ser uma boa forma de encontrarem novas soluções e de se adequarem melhor às necessidades dos infantes. Dependendo da idade e da personalidade deles, esta participação poderá ser muito positiva, inclusive ajudando a aliviar a tensão entre os pais. Nessa conversa, vocês deverão ouvir os sentimentos mais do que as palavras.
Antes de chamar os pequenos, conversem entre si para saber se ambos acreditam ser uma boa opção. Não force a participação dos filhos sem que um dos pais concorde com a ação, já que o tiro poderá sair pela culatra, acirrando os sentimentos negativos e atingindo as crianças no processo. É importante também saber se eles estão interessados em participar: forçar suas presenças também tende a não ser positivo.
Uma opção inteligente pode ser incluir os pequenos (ou grandes) na conversa, por meio de uma ajuda especializada. Um psicólogo ou terapeuta de família pode ser alguém que ouvirá os filhos com isenção, sem que eles se sintam constrangidos, transmitindo depois, aos pais, o olhar desses filhos, já interpretado de uma forma profissional.
5) Não se prenda a decidir tudo em um único encontro
Não tenha pressa ao planejar uma Guarda Compartilhada. É claro que quanto antes conseguirem decidir isso, mais rapidamente poderão adequar suas vidas para a nova realidade. No entanto, chegar a definições apressadas pode resultar em decisões que vocês poderão se arrepender mais para frente.
Caso, em meio ao papo, percebam que faltam informações para chegarem a uma conclusão, guardem este tema para um próximo encontro. Se um dos temas estiver gerando uma discussão em que nenhum está conseguindo ceder ou propor algo que ambos aceitem, permitam-se digerir o assunto separadamente, com mais calma e até buscar a opinião de terceiros de confiança, para só então voltarem à discussão. E, se a conversa já estiver durando muito tempo e notarem que o cansaço está levando a melhor de vocês, deixando-os irritadiços e implicantes, aceitem a pausa merecida e combinem outro momento para continuarem a conversa.
Além disso, os filhos crescem e as rotinas mudam. Mesmo que cheguem rapidamente a um acordo, entendam que ele não será definitivo. Tudo pode e deve ser testado e adaptado conforme a resposta da família.
Por fim, percebam que trabalhando juntos, vocês verão que conseguirão muito mais. Afinal, vocês podem não ser mais um casal, mas nunca deixarão de ser os pais dos seus filhos.
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Escrito por: Iane Ruggiero
Fonte: Jusbrasil