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Fazendo uma mescla entre temas jurídicos e outros mais voltados ao dia a dia da advocacia, ‘cá estou em mais um artigo voltado para os colegas, sobretudo aqueles que enfrentam as desventuras dos primeiros anos de advocacia. Confesso, não me sinto muito confortável em escrever como se fosse alguém com anos de experiência ou se quisesse ensinar algo para alguém. Por isso, adoto uma outra perspectiva: a do compartilhamento.

Cada artigo voltado para a parte de gestão, gerenciamento, produtividade, reflexões sobre o próprio ofício advocatício, na minha visão, partem mais de uma entrega de experiência vivida do que propriamente uma “lição de moral”. Até porque, sinto que fazendo desta forma o relato se torna mais verídico e palpável. Não sou infalível, em verdade, nenhum de nós somos.

Entretanto, partilhando e aprendendo com os erros dos outros, acredito que possamos melhorar não só como profissionais, mas como indivíduos.

Pois bem, nariz de cera feito, vamos ao que interessa!

Quantas vezes você precisou falar com alguém do seu interesse (um prospecto/cliente, um médico, um parceiro) e deparou-se com dificuldades como: não conseguir uma resposta em tempo hábil, enfrentar barreiras comunicacionais ou excesso de burocracia? Acredito que muitas vezes!

O exemplo clássico é um empresário. Para chegar até ele você precisa passar por, pelo menos, uma secretária, um gerente, um conselho, até chegar efetivamente em qual você deseja atingir para mandar sua mensagem. E, convenhamos, é um saco realizar toda essa maratona para ouvir uma resposta simples ou entregar uma informação.

O engraçado, entretanto, é que “casa de ferreiro, espeto de pau”, e uma das primeiras atitudes do escritório recém-montado ou estruturado é ter uma secretária ou estagiários para fazerem a “linha de frente” do escritório. Os sócios saem do contato direito e começam a criar pessoas interpostas para lidar com as questões mais corriqueiras as famosas “dúvidas”.

A ideia de ter alguém para fazer uma espécie de triagem do que vai chegar até você para não tirar o seu foco do que realmente importa (prazos, peças, estudos, teses), em princípio, parece fazer total sentido, sobretudo quando a demanda aumenta. Entretanto, você manda uma mensagem indireta ao seu cliente que pode não ser das melhores: “não me incomode”.

Então, ao invés de você gerar uma ideia de que seu tempo é valioso e que você está focado em resolver os problemas maiores, na contrapartida pode estar afastando clientes em potencial pela dificuldade em lidar diretamente com eles. É o que chamo de proximidade.

Existe no ideário comum que o advogado que um profissional extremamente atarefado, pouco próximo de seus clientes. O que acontece, na prática, são muitas reclamações sobre a falta de informações sobre os processos, demora na entrega de respostas e dificuldades de contato entre o titular de um direito e seu procurador. Uma das formas que encontrei de destacar minha advocacia nesse começo de profissão é justamente o contrário.

A “advocacia de proximidade”, com a ousadia de cunhar o termo, é mostrar-se próximo de seu cliente, não criar barreiras ou impeditivos para responder suas dúvidas e questionamentos, respeitando os limites éticos. Não raro, por exemplo, pessoas de todo o Brasil acessam outros artigos e aparecem no meu whatsapp, mandam e-mail ou me ligam com dúvidas jurídicas e, sempre que posso, respondo-as da forma mais ágil e completa que possa.

Da mesma forma, àqueles clientes possuem processo comigo possuem o meu número de contato e sempre estão autorizados a enviar mensagens ou ligar quando necessário. Porém, a proximidade não pode ser confundida com intimidade. É fundamental estabelecer limitar próprios e deixa-los claro com seu cliente. Por exemplo, quanto a resposta de dúvidas extremamente personalizadas o que já se configuraria uma consulta jurídica (o que é vedado pelo nosso Código de Ética), falar sobre o trabalho de um colega (atitude também proibida) ou mesmo com relação aos horários inapropriados (noites, finais de semana, feriados).

A solução para essas questões, na minha visão, é bem simples: transparência. Ser direto com um cliente. Quando alguém me manda uma mensagem ou ligar em um horário que estou ocupado, respondo “estou ocupado, assim que possível dou um retorno” ou quando já é tarde da noite, visualizo e no dia seguinte, logo cedo, já respondo. Desta forma, você consegue “educar” do cliente sem desrespeitá-lo. Entretanto, é fundamental que as respostas sejam feitas em tempo hábil e, principalmente, que elas sejam feitas!

Pensar cada processo como uma relação entre você e seu cliente muda o paradigma de que se resolve apenas um problema jurídico, mas que se constrói uma relação é transformador. Com as ferramentas atuais é possível estar presente e próximo sem necessariamente precisar estar pessoalmente. E isso é uma grande arma da nova advocacia.

Escrito por: Thiago Noronha Vieira
Fonte: Jusbrasil